«Dilexi Te»: Primeira exortação de Leão XIV assume legado social de Francisco
«Dilexi Te»: Primeira exortação de Leão XIV assume legado social de Francisco Papa reforça proposta de «Igreja pelos pobres e com os pobres», publicando documento preparado pelo seu antecessor Foto: Vatican Media Cidade do Vaticano, 09 out 2025 (Ecclesia) – Leão XIV publicou hoje a primeira exortação apostólica do pontificado, ‘Dilexi Te’, na qual assume o legado pastoral e social de Francisco, numa reflexão sobre a relação da Igreja com os pobres. “Em continuidade com a Encíclica Dilexit nos, o Papa Francisco, nos últimos meses da sua vida, estava a preparar uma exortação apostólica sobre o cuidado da Igreja pelos pobres e com os pobres, intitulada Dilexi te, imaginando Cristo a dirigir-se a cada um deles dizendo: Tens pouca força, pouco poder, mas «Eu te amei»”, explica o Papa, eleito a 8 de maio deste ano, pouco mais de duas semanas após a morte de Francisco (21 de abril). O título ‘Dilexi Te’ (Eu amei-te, em português) é retirado de uma passagem do último livro da Bíblia, o Apocalipse (Ap 3, 9). “Ao receber como herança este projeto, sinto-me feliz ao assumi-lo como meu – acrescentando algumas reflexões – e ao apresentá-lo no início do meu pontificado, partilhando o desejo do meu amado predecessor de que todos os cristãos possam perceber a forte ligação existente entre o amor de Cristo e o seu chamamento a tornarmo-nos próximos dos pobres”, escreve Leão XIV. A reflexão sublinha a “opção preferencial pelos pobres”, uma expressão que se generalizou na Igreja Católica a partir da América Latina – onde Francisco nasceu e onde o atual Papa foi missionário e bispo – como uma dimensão teológica, e não apenas social, na vida da Igreja. “A condição dos pobres representa um grito que, na história da humanidade, interpela constantemente a nossa vida, as nossas sociedades, os sistemas políticos e económicos e, sobretudo, a Igreja. No rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo”, sustenta a encíclica. Na linha do seu antecessor, Leão XIV defende o ideal de uma Igreja humilde, fiel à sua vocação de serviço aos necessitados, inspirando-se em figuras como São Francisco de Assis e os membros das ordens mendicantes, surgidas no século XIII. “A Igreja é luz quando se despoja de tudo, a santidade passa por um coração humilde e dedicado aos pequenos”, refere, falando numa “revolução evangélica, na qual o estilo de vida simples e pobre se converte em sinal profético para a missão”. Jesus é um mestre itinerante, cuja pobreza e precaridade são sinais do vínculo com o Pai e são pedidas também a quem deseja segui-lo no caminho do discipulado, precisamente para que a renúncia aos bens, às riquezas e às seguranças deste mundo seja um sinal visível do ter-se confiado a Deus e à sua providência.” O Papa enfatiza que a Igreja deve assumir “uma decidida e radical posição em favor dos mais fracos”, num texto em que retoma a tradição bíblica e patrística (teólogos da antiguidade cristã), convidando a reconhecer os pobres como “carne de Cristo” e “modo fundamental de encontro com o Senhor da história”. “A caridade não é uma via opcional, mas o critério do verdadeiro culto”, aponta. A exortação apostólica assume críticas dentro e fora da Igreja a esta mensagem em defesa dos mais frágeis. “Observar que o exercício da caridade é desprezado ou ridicularizado, como se fosse uma fixação somente de alguns e não o núcleo incandescente da missão eclesial, faz-me pensar que é preciso ler novamente o Evangelho, para não se correr o risco de o substituir pela mentalidade mundana”, adverte o pontífice. Leão XIV sustenta que os pobres não são apenas destinatários de assistência, destacando a “necessidade de considerar as comunidades marginalizadas como sujeitos capazes de criar cultura própria”. Existem muitas formas de pobreza: a daqueles que não têm meios de subsistência material, a pobreza de quem é marginalizado socialmente e não possui instrumentos para dar voz à sua dignidade e capacidades, a pobreza moral e espiritual, a pobreza cultural, aquela de quem se encontra em condições de fraqueza ou fragilidade seja pessoal seja social, a pobreza de quem não tem direitos, nem lugar, nem liberdade”. O primeiro Papa da Ordem de Santo Agostinho, da qual foi responsável mundial, escreve que “numa Igreja que reconhece nos pobres o rosto de Cristo e nos bens o instrumento da caridade, o pensamento agostiniano permanece uma luz segura”. “Hoje, a fidelidade aos ensinamentos de Agostinho exige não só o estudo de suas obras, mas a predisposição para viver com radicalidade o seu apelo à conversão que inclui necessariamente o serviço da caridade”, indica. A ‘Dilexi Te’ está dividida em 121 pontos, com quase 60 citações de Francisco, entre as 129 notas do texto. “Devemos sentir a urgência de convidar todos a entrar neste rio de luz e vida que provém do reconhecimento de Cristo no rosto dos necessitados e dos sofredores. O amor pelos pobres é um elemento essencial da história de Deus conosco e irrompe do próprio coração da Igreja como um apelo contínuo ao coração dos cristãos, tanto das suas comunidades, como de cada um individualmente”, apela Leão XIV. Uma exortação apostólica é um documento formal do Papa dirigido principalmente aos católicos, sem se limitar a eles, cujo objetivo principal é orientar os destinatários sobre um tema específico – neste caso, “o amor para com os pobres” –, estimulando a reflexão e a ação. Uma exortação apostólica é um documento formal do Papa dirigido principalmente aos católicos, cujo objetivo principal é orientar os destinatários sobre um tema específico – neste caso, “o amor para com os pobres” -, estimulando a reflexão e a ação. Sem o peso oficial de uma encíclica, o documento papal mais solene, cada exortação apostólica é vista como um texto que expressa diretamente a visão do pontífice sobre o tema em análise. OC In Agência Ecclesia
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