CARTA PASTORAL PARA O ANO 2015-16
Ousar o «olhar» da misericórdia
Queridos irmãos e irmãs!
De novo, firmes e com a graça de Deus, retomamos juntos o caminho, caminho a ser percorrido com Aquele que se identificou como Caminho, Jesus Cristo. Na força do Amor vivemos o ano pastoral que findou, fechando, assim, um ciclo de programação trienal sob o lema: Alegria de crer, vivendo na esperança, para anunciar o Evangelho do amor. Os próximos três anos têm como lema: A Igreja comunidade de amor: ao serviço da reconciliação, justiça e paz.
Na mesma força do amor, quando o Papa proclama um Jubileu Extraordinário, o Ano da Misericórdia, a Diocese propõe aos seus fiéis este lema como ideia inspiradora para o ano pastoral: Ousar o “olhar” da misericórdia. A expressão comporta dois sentidos: deixarmo-nos olhar por Deus que nos ama e não desiste de repousar sobre nós o seu olhar de misericórdia e ao mesmo tempo, sermos portadores desse olhar de misericórdia. Como diz o Papa, na bula de proclamação deste Jubileu: «há momentos em que somos chamados, de maneira ainda intensa, a fixar o olhar da misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai» (MV 3). Este ano é um tempo favorável para a Igreja, uma oportunidade para contemplar o mistério da misericórdia, o rosto de Cristo, que é fonte de alegria, serenidade e paz (cf. MV 2).
No coração do Sucessor de Pedro ecoa bem forte, o grito dos pobres que clamam por amor e justiça, pobres nas mais dramáticas formas e circunstâncias; pobreza e sofrimento que são consequências da gravidade do pecado dos homens. Mas Deus responde com a plenitude do perdão e a missão da Igreja é anunciar a Sua misericórdia.
O Séc. XXI, do qual decorreram apenas 15 anos, está marcado por inúmeras guerras, violências, execuções sumárias e indiscriminadas, o escândalo do tráfico humano, fratricídios e injustiças sociais a que assistimos, todos os dias, comodamente, nos sofás das nossas casas. A este espectáculo horrendo, o Papa Francisco tem chamado III guerra mundial aos pedaços. Infelizmente, algumas delas até são evocadas em nome de Deus.
E a nossa pequena terra, nem por isso escapa a alguns destes fenómenos de sofrimento, embora noutra escala e com aparência camuflada. A Igreja, fiel à sua vocação profética, necessariamente tem uma palavra a dizer e, mais ainda, um papel a desempenhar. O caminho da Igreja passa pela atenção e pelo cuidado amoroso aos mais necessitados e esquecidos; o nosso rosto pessoal e comunitário, deverá reflectir a luz da misericórdia divina. Como dizíamos na Carta Pastoral do ano passado: ‘De amor, é o que o mundo presente, com toda as suas ameaças e dificuldades, mais precisa. Uma Igreja solidária e próxima é o que se nos pede hoje, como no-lo indica o Papa: uma Igreja «em saída»; "Desejo uma Igreja pobre para os pobres (EG 198)’.
A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua acção pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo (MV 10). Este ano pastoral, nas nossas paróquias e comunidades diocesanas, com a animação dos pastores e o empenho de todos os fiéis, havemos de encontrar, certamente, a melhor forma de pôr em acção as linhas de orientação pastoral que seguem juntamente com a presenta carta. Vamos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais (Cf. MV 15)!
Não deixaremos de ter presente a mais recente Encíclica do Papa, a Laudato Si - Sobre o cuidado da casa comum, que nos oferece uma reflexão preciosa, suscitando em nós o desejo e a urgência de cuidar melhor da casa comum. Nela há um veemente apelo à comunhão universal. As criaturas deste mundo não podem ser consideradas um bem sem dono: todas pertencem ao Senhor que as ama. Deus criou o mundo para todos e toda a história da salvação deve ser lida na perspectiva da misericórdia. A criação é fruto da misericórdia. “A misericórdia para com os famintos, os pobres e os que sofrem é a chave do céu” (Cf. LS 89.93; EG 197).
O Ano Santo terá a sua abertura em Roma, pelo Papa, a 8 de Dezembro de 2015 e nós, aqui na Diocese, faremos essa abertura oficial no Domingo seguinte (3º do Advento), dia 13 de Dezembro. Desejo para todos um bom ano pastoral e que possamos ver o rosto luminoso de Cristo em cada dia e em cada irmão!
Maria, Mãe da Divina Misericórdia, interceda por nós com amor!
Mindelo, 8 de Setembro de 2015 – Festa da Natividade da Virgem Santa Maria
†Ildo Fortes
Bispo de Mindelo