MENSAGEM DE DOM ILDO FORTES PARA A QUARESMA DE 2019

2019-03-10       Actualidade       Igreja  

  

O Bispo da Diocese de Mindelo, Dom Ildo Fortes, endereça neste Primeiro Domingo de Quaresma a sua Mensagem para a Quaresma de 2019, onde dá aos seus diocesanos e homens de boa vontade algumas orientações para uma melhor vivência deste tempo de conversão. Eis, na íntegra a mensagem de Dom Ildo Fortes:


MENSAGEM QUARESMAL 2019
Não te apresentes diante de Deus de mãos vazias 
Não te apresentes diante de Deus de mãos vazias (Sir 35, 4). Esta palavra ouvimo-la de um dos livros sapienciais, na véspera de darmos início a esta Quaresma; ela é bem oportuna e interpelativa. Deus é abundância, Ele é riqueza de amor e vida partilhada, junto d’Dele há abundância da redenção (Sl 130, 7). O nosso Deus dá-se inteiramente sem reservas nem medida e isso é causa da nossa alegria. Por isso mesmo, Aquele que nos criou à Sua imagem e semelhança, não espera outra coisa de nós senão que sejamos e vivamos também em plenitude a vida que Ele nos confiou. Não queiramos nos apresentar diante do Senhor, vazios e de mãos vazias!
Este tempo especial e favorável de Graça e salvação é deveras sugestivo para olharmos para dentro de nós, num exercício  difícil para muitos, e vermos como estamos interiormente. Qual é a verdade que nos preenche? É necessário reajustar as nossas atitudes interiores quanto ao que diz respeito a Deus e aos outros. Há que rever as nossas práticas a começar pelas religiosas e ver se elas dão testemunho de uma vida coerente e marcada pelo amor. 
As cinzas com que começamos este tempo santo, impondo sobre as nossas cabeças, mais do que reproduzir a imagem manchada pelo pecado ou a caducidade da nossa frágil existência  longe de Deus, querem ser sinal do recomeço, pois que somos agora de novo chamados a renascer para vida nova e a reavivar em nós a graça e a dignidade de baptizados. É para a Páscoa que olhamos desde já, para a transformação interior que se realizará em nós graças a Cristo Ressuscitado.
Este século, este tempo presente onde se desenrola a nossa existência, empurra-nos e projecta-nos vertiginosamente para longe de nós, num reboliço sem fim e, se nos falta a sabedoria de fazer um stop, corremos o risco de ir na enxurrada do tempo que nos impede de realizar em pleno a vida com o sabor e com o colorido com que Deus a plasmou.
Trata-se da necessidade de uma paragem espiritual técnica tão própria da tradição da Igreja ao longo dos séculos, para recomeçar e nos deixarmos recriar ao ritmo do coração de Deus. A abrir este 1º Domingo da Quaresma, somos confrontados com Jesus que movido e cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão… (Lc 4, 1). Os sábios e os sedentos sabem parar… pois só sacia a sua sede quem é capaz de deter-se junto à fonte. Eis a  proposta nesta escalada para a Páscoa: deter-se um pouco, parar; e como filhos de Deus deixar-se guiar pelo Espírito Santo ao deserto da oração e da conversão. «A tentação sempre latente em nós é de fugir para um lugar seguro, que pode ter muitos nomes: individualismo, espiritualismo, confinamento em mundos pequenos, dependência, instalação, repetição de esquemas preestabelecidos, dogmatismo, nostalgia, pessimismo, refúgio nas normas. Talvez nos sintamos relutantes em deixar um território que nos era conhecido e controlável». (GE 134)
Caminhemos para a Páscoa próximo dos irmãos e irmãs em dificuldades…
Nesta caminhada para a Páscoa, só lá chega quem for capaz de levar outros consigo. O próximo ocupa um lugar muito importante na vivência da Quaresma. De pouco ou nada nos valerá o jejum e a esmola recomendados pela Igreja nesta época, se isso não significar um treino prático para estar mais próximo dos outros. Essas práticas têm em mira a fraternidade e a solidariedade. O Papa na sua mensagem quaresmal sintetiza assim essas recomendações: 
«Jejuar, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber renunciar à idolatria e à auto-suficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de assegurarmos um futuro que não nos pertence. E, assim, reencontrar a alegria do projecto que Deus colocou na criação e no nosso coração: o projecto de amá-Lo a Ele, aos nossos irmãos e ao mundo inteiro, encontrando neste amor a verdadeira felicidade».
O Ressuscitado, segundo o projecto do Pai, santifica e marca presença na «comunidade que guarda os pequenos detalhes do amor e na qual os membros cuidam uns dos outros e formam um espaço aberto e evangelizador. Sucede às vezes, no meio destes pequenos detalhes, que o Senhor, por um dom do seu amor, nos presenteie com consoladoras experiências de Deus» (cf. GE 145). Por isso, como de costume, a família diocesana, nesta Quaresma de 2019, vai mostrar a sua solidariedade através da Renúncia Quaresmal que será para ajudar aquelas populações que mais têm sofrido com este longo período de seca que se faz sentir no nosso país. Os dois anos consecutivos sem chuva, têm deixado várias famílias que dependem da criação de animais e da frágil agricultura de subsistência, em situações críticas de grave insegurança alimentar. Tem havido algum esforço a nível nacional de mitigar esta situação, nós vamos através da nossa Caritas que já habitualmente se encontra no terreno acompanhando de perto muitas dessas famílias, dar o nosso contributo. Como conclui o Papa Francisco na Sua mensagem: «Abandonemos o egoísmo, o olhar fixo em nós mesmos, e voltemo-nos para a Páscoa de Jesus; façamo-nos próximo dos irmãos e irmãs em dificuldade, partilhando com eles os nossos bens espirituais e materiais». O fruto da Renuncia Quaresmal do ano passado foi de 340.000$00 e parte já foi entregue à Rede PASM -  Rede de Prevenção de Abuso Sexual de Menores com sede em Santo Antão, como tínhamos determinado. Sejamos amigos dos pobres de Deus e as nossas mãos não estarão vazias quando chegarmos à Páscoa!
Mindelo, 10 de Março de 2019 – I Domingo da Quaresma

† Ildo Fortes, Bispo de Mindelo



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