Dom Ildo Fortes, Bispo de Mindelo, dirige Carta Pastoral aos fiéis da Diocese, para o Ano 2022-23. A Comunidade, Lugar de Pertença e Vivência da fé. Cultura Vocacional, é o lema deste segundo ano do triénio que prepara o Jubileu dos 20 anos da Criação da Diocese
CARTA PASTORAL PARA O ANO 2022-23
A COMUNIDADE, LUGAR DE PERTENÇA E VIVÊNCIA DA FÉ
Estimados
irmãos e irmãs,
Neste novo ano pastoral,
à semelhança do que vos escrevia, continuamos a celebrar em espírito de gratidão
os quase 20 anos da Diocese e olhamos para o futuro que Deus nos oferece com muita
esperança. Igreja Casa e Escola de Comunhão,
Viva e Missionária é o lema que mantemos no
triénio 2021-2024. O propósito da espiritualidade de comunhão deve continuar a
marcar tudo o que fazemos, inclusive os nossos planos pastorais;
esse esforço sincero de comunhão começa no coração
e nas atitudes de cada um de nós. De pouco nos valem as estruturas se lhes
faltam a alma e o amor que emana do coração do Senhor para com a Sua Igreja.
Os ecos da consulta
sinodal diocesana deixam bem claro a sede do povo de Deus para viver numa
Igreja que, para além de serviços e estruturas, saiba criar e oferecer espaços
de comunhão, fraternidade, escuta e inclusão: laços de comunhão entre os Pastores
e o conjunto do povo de Deus, entre Clero e Religiosos, entre associações e
movimentos eclesiais é uma exigência e sobre isso, falávamos na Carta Pastoral
de 2021-2022.
O triénio que nos conduz
ao jubileu dos 20 anos, ficou assim organizado: 1º ano – Igreja Casa e Escola
de Comunhão. A identidade laical e a prática da caridade; 2º ano – A Comunidade,
lugar de pertença e vivência da fé. Cultura vocacional; 3º ano – A Igreja em
Missão. Celebração do jubileu dos 20 anos da diocese. Memória e esperança.
A caminhada sinodal
proposta pelo Papa: por uma Igreja
sinodal, Comunhão, Participação e Missão,
frisa o aspecto da participação. Pode ser essa a tónica a juntar a este ano pastoral vivido sob o
tema: A Comunidade, lugar de
pertença e vivência da fé. Cultura vocacional. A Comunidade eclesial feita de todos, está sempre em movimento porque é
um organismo vivo; esta difere de outras instituições, por estar em constante renovação
e porque é vivificada por Aquele que a sustem.
Nela, somos convocados para constituir um edifício espiritual, chamado
ao louvor da glória do Senhor (cf. Ef 1, 8-12).
Não sem razão, muitas
vezes constatamos que algumas comunidades estão estagnadas, passivas e outras até
paralisadas. É urgente escutar a voz do Espírito que nos desperta para uma
Igreja “em saída”. Comunhão, Participação e Missão, neste tríptico, vivemos o Sínodo.
O processo sinodal captou a vivacidade das nossas comunidades, mas também as
inquietações do povo que almeja por uma igreja aberta a todos e onde todos
tenham vez e voz. Esta tarefa deve envolver
os Pastores e todos os fiéis comprometidos a caminhar juntos, cientes de que há
diversidade de dons e serviços e diversos modos de
agir, concorrendo todos e cada um para o proveito
comum (cf. 1Cor 12, 4ss).
Os resultados do processo
sinodal, por um lado nos trazem a alegria e o entusiamo com que muitos
acolheram esta iniciativa; pois, foi uma oportunidade de escutar, conhecer e
sentir o que é vivido pelos nossos fiéis.
Foi tomada como sinal inovador e tão desejado por muitos. Por outro lado,
também nos chegaram relatos daqueles que sentem que é mister uma grande
conversão na Igreja, a começar pelos Pastores e por aqueles que lhes estão
muito próximos. Pois a igreja é sentida como uma estrutura demasiada centrada
nos Pastores e na sua autoridade, nem sempre bem vivida. Igreja clerical com
uma acentuação vertical em vez de uma Igreja comunhão, fraterna e próxima, onde
ninguém é mais que ninguém; apenas cada um tem um lugar que lhe é próprio, em
virtude da sua condição de batizado e membro do Corpo de Cristo. Se os Pastores não são assim, pelo menos,
muitos dos inqueridos têm essa percepção.
Igreja comunhão e participação,
acolhedora e onde nos sentimos em casa é o que ansiamos. Igreja que vive ao
estilo de Jesus Cristo, manso e humilde de coração. Na Evangelii Gaudium, o Papa adverte para o perigo do desmoronar da comunidade: é fácil
roubar, pilhar, destruir as comunidades. Não deixemos que nos roubem a comunidade (EG 93). Ela é de um valor inestimável e Cristo deu a sua vida para que todos
nós nos tornássemos um N’Ele.
Aproximando-nos do
jubileu dos 20 anos da Diocese, continuamos a sublinhar e a fazer de tudo para
que ela seja a Casa e Escola de Comunhão; a comunidade que respeita a
diversidade dos carismas, das sensibilidades, das visões e que não exclua ninguém.
Neste sentido, na pessoa dos Pastores das comunidades e dos fiéis, cada um que
deseja aproximar-se se sinta acolhido e chamado a fazer parte desta família. E
isto deve acontecer a todo o momento e em qualquer lugar. Quando se chega à
comunidade, procurando uma informação, solicitando um serviço, uma ajuda ou um sacramento,
que as portas do coração sejam as primeiras a estarem abertas para oferecer o
bálsamo da fraternidade e da disponibilidade.
Para este segundo ano do
triénio, vamos privilegiar o sentido de pertença e participação de todos. Na assembleia
cristã, é certo que nem todos têm que ser protagonista de alguma acção, nem
estar na linha da frente, mas ninguém deve se sentir de lado ou excluído. Cada qual
tem um lugar nesta casa e essa consideração define o jeito de participação.
Especial atenção e acompanhamento deveríamos fazer àqueles que são recéns
baptizados, crismados ou, simplesmente, chegaram de novo à paróquia.
Talvez cada comunidade
possa tomar os resultados do inquérito sinodal, como elementos a analisar para
melhorar a dinâmica pastoral no sentido de corresponder aos legítimos desejos e
sonhos dos fiéis.
Para participar melhor é fundamental
conhecer a natureza do que é ser cristão; pelo que é necessário continuar a
apostar na formação e capacitação dos nossos leigos. Vários são os subsídios e as propostas de
formação que a Igreja vai pondo à nossa disposição. A Escola Universitária
Católica é primeiramente para os de dentro. A temos em conta?
Que os Párocos, em vez de
multiplicarem acções na comunidade, vejam com os conselhos paroquiais, quais
aquelas que deveriam ser priorizadas e em que momentos mais apropriados deveriam
acontecer de modo que haja foco naquilo que é verdadeiramente essencial. Que as
conferências, formações, reuniões, ensaios, retiros, preparações diversas,
festividades sejam pensados de forma equilibrada e real, sem dispersões daquilo
que é a disponibilidade da nossa gente. É preciso maior articulação entre os
grupos e movimentos, ao organizar atividades que exijam a mobilização da
comunidade. Há que fomentar a cultura da
programação pastoral paroquial e definir os momentos certos para convocar os
fiéis e as pessoas em geral.
Neste contexto, deve-se
ter presente as propostas que emanam da Diocese e dos serviços que estão
mandatados pelo Bispo: Semana Teológica, formação dos catequistas, pastoral
familiar, encontros vocacionais, etc. É muito salutar o que em algumas ilhas se
tem vindo a realizar, envolvendo setores específicos, tais como: Encontros/Festas
da Família, Jornadas da Juventude, Encontro vicarial de Catequistas, Encontro
inter paroquial de Acólitos. É por aqui o caminho!
A Igreja Casa de
Comunhão, sente-se no concreto em momentos como esses que renovam a consciência
de sermos Igreja, família de Deus. Também o Senhor reuniu muitas vezes à sua
volta grandes multidões. Temos os olhos postos na JMJ Lisboa 2023, que será um
desses momentos ímpares na vida do jovem cristão. Assim, não deixa de ter um
lugar privilegiado o apoio aos nossos jovens e desejando muito que possam participar
em bom número neste grande evento mundial. A preparação e o envolvimento nestas
jornadas – sob o lema Maria
levantou-se e partiu apressadamente (Lc 1, 39) - poderiam ser uma boa oportunidade para um despertar vocacional entre os
jovens. Porque não explorar mais esta vertente mariana na vida dos jovens e
adolescentes em ordem a uma pastoral vocacional?
Valorizar as pequenas
comunidades (aldeias e bairros) também é muito importante, mas sem fragilizar a
dimensão da Paróquia ou Diocese, a comunidade mais alargada e de maior experiência
eclesial. É necessário, tanto quanto possível, pôr em relevo a Igreja Paroquial,
a sede da pastoral e a sua condição de matriz. Salvo raras exceções, por razões
de distâncias ou outro motivo válido, que os sacramentos e os sacramentais se
realizem na Igreja Paroquial (baptismos, crismas, casamentos, momentos fortes do
ano, como o ciclo do Natal e da Páscoa).
Nas cidades ou Paróquias
próximas, que o sentido de vizinhança e pertença à mesma Igreja se estreitem,
podendo ser melhor aproveitados os meios e as sinergias, como por exemplo as
conferências quaresmais, cursos de formação, preparações para os sacramentos.
Para isso, é necessário que os Párocos, os líderes, as Vigararias estejam
abertos às dinâmicas de comunhão e participação, envolvendo, aproximando e
criando redes próprias da condição eclesial. Temos notado que os jovens e os
casais testemunham uma alegria enorme e um rejuvenescer da fé quando experimentam
a vivência de comunhão mais alargada.
Que ao jeito próprio do Sínodo,
o espírito de comunhão, partilha e pertença à mesma Igreja, «faça germinar
sonhos […], florescer a esperança, estimular confiança, faixar feridas,
entrançar relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender uns dos outros
e criar um imaginário positivo que ilumine as mentes, aqueça os
corações, restitua força às mãos»! (Discurso do Papa Francisco na Abertura do
Sínodo dedicado aos Jovens, 3.X.2018).
Prossigamos juntos mais
esta etapa pastoral, como discípulos missionários, sendo sinal duma Igreja à escuta e em caminho; seguros de que «o destino futuro da humanidade está nas mãos daqueles que
souberem dar às gerações vindouras razões de viver e de esperar» (Gaudium
et spes, 31).
Mindelo,
20 Agosto de 2022 - Memória Litúrgica de S. Bernardo, Abade e Doutor da Igreja
† Ildo Fortes, Bispo de Mindelo